quinta-feira, 22 de setembro de 2011

INTELIGÊNCIA ARTÍSTICA - você tem???

        
        “Um grande artista é movido no fundo por uma grande inteligência. Tem a criatividade, a sensibilidade, mas quem governa é a inteligência. Digo inteligência não como algo frio, enciclopédico, nerd. Mas como capacidade de avaliar, de escolher, de fazer o balanço do que serve e do que não serve, de tentar entender o que faz. [...] Frank Sinatra, antes de gravar ou cantar uma música num show, passava alguns dias lendo a letra. Estudava, entendia a construção do texto, a função de cada palavra. Quando cantava, revelava tudo isso para nós. Suas pausas, as partes mais faladas do que cantadas, a hora de desenhar a melodia, a hora de subir, de ser breve, de cantar mais alto, mais baixo, tudo vinha do entendimento que ele tinha do texto. Era, antes de um cantor, um leitor. Seu canto lia o texto para ouvirmos a sua leitura. O ator francês Gérard Depardieu também disse que a sua interpretação teatral parte da leitura das nuances do texto. Para ele, interpretar é encontrar uma maneira bonita de dizer o texto. É uma questão de achar as pausas. Como na música, uma questão de ritmo, de duração. Pausas breves, longas, médias. A busca de cada artista é desenvolver esse saber sobre o que faz. Um saber que muitas vezes se transforma com o tempo. Daí os artistas com fases diferentes, com reviravoltas, os que são praticamente vários durante uma vida.”
Fragmentos da crônica de: Ricardo Silvestrin
                                                                    Disponível em: http://www.ricardosilvestrin.com.br/?pg=2114


      Muitas pessoas têm um talento, como disse Ricardo Silvestrin, que é movido pela inteligência. Esses têm a capacidade de desenvolver cada arte que desperta muito interesse e pode atravessar até mesmo gerações. A seguir, mencionarei uma figura importante para a história do Brasil que revolucionou a arte musical e criava novos instrumentos em busca de uma nova música. Nasceram assim as “plásticas sonoras”, instrumentos feitos com cabaças, cordas, tubos de PVC e outros materiais que aproximavam música e artes visuais.

ANTON WALTER SMETAK          
            Apesar de ter nascido em 1913 na Suíça, este violoncelista virtuoso, compositor, luthier, escultor, escritor, inventor de instrumentos e “plásticas sonoras” (cerca de 150); viveu o auge de sua carreira em Salvador, trabalhando como professor na Escola de Música da UFBA desde 1957 até a sua morte, em 1984.
            Sua obra inscreve-se em uma linhagem que inclui E. Varèse, J. Cage, A. Schoenberg e J. Carrillo – compositores que tiveram uma contribuição-chave na difusão do atonalismo, dodecafonismo e microtonalismo.
         Ao buscar romper com as bases rítmica, harmônica e tonal predominantes na música “erudita” europeia de sua época, e incorporar timbres e outros sons pouco usuais às suas composições, Smetak foi vanguarda na Bahia e da Bahia, pois também integrou de maneira genial a música à escultura.
       Focando seus esforços no estudo da atomização microtonal e do “som prolongado” através de instrumentos experimentais produzidos com cabaças e outros recursos naturais nativos – inclusive através de instrumentos produzidos por indígenas brasileiros – Smetak não estava apenas pesquisando novos sons e revalorizando sons tidos como “corriqueiros”. Seu objetivo foi o de ampliar a consciência auditiva dos indivíduos como um passo necessário para o despertar de novas faculdades sensoriais e valores sociais.
         Para Smetak a função da música é a de celebrar o presente, não em seu sentido festivo, alienante e reificado da nossa sociedade on line, tão dependente de eventos impactantes sucessivos e cujo efeito principal é ignorar o passado, a própria história e a possibilidade de mudanças no futuro. Ao contrário, a sua forma criativa de celebrar o presente através do exercício musical pode ser entendida como um método revolucionário e necessário para a reinvenção de novas formas de se viver, socialmente mais justas e generosas.
         A importância do seu legado é que ele não foi apenas um homem com preocupações estéticas, mas também sociais e espirituais. Afinal, como a expressão musical é a forma de arte mais abstrata, ele acreditava que caberia à nova música dar vazão a um ímpeto criador capaz de plasmar novos homens e também uma nova sociedade.
           De Caetano a Gil, passando por Tom Zé, Rogério Duarte e Tuzé de Abreu a genialidade das suas contribuições inspirou e inspira muitos artistas e intelectuais. [...]

            *Enio Antunes Rezende – Professor da Universidade Estadual de Feira de Santana
            Disponível em: http://jeitobaiano.wordpress.com/tag/walter-smetak/

Veja mais sobre sua vida e suas invenções:

Acadêmicos:



 
A Experiência Artística Melhora o Desempenho Escolar?

       O envolvimento de crianças com as artes para o êxito escolar anda despertando polêmicas interessantes. As razões da controvérsia certamente incluem a popularização das ideias de Gardner sobre múltiplas inteligências (1983), além da atenção dada pela mídia às pesquisas de neurocientistas da Universidade da Califórnia que ligam formação musical a desenvolvimento cognitivo (Rauscher et al., 1997).
       Há fortes justificativas teóricas para a posição de que as artes constituem ótimas parceiras em potencial para a aprendizagem acadêmica, especialmente ao considerarmos o papel global da representação nas maneiras pela qual aprendemos e expressamos nossa compreensão. Consideremos o seguinte breve relato de algo que acontece numa aula de história: uma forma artística de representação é proposta por uma pioneira curricular por sua importância para o estudo da história da Europa moderna. Os alunos aproximam-se para ver melhor e discutir o que veem num dos exemplos, o qual lhes parecer ser um rico retrato de Paris em 1898. Observam na cidade repleta de vida as evidências da modernização — o transporte coletivo, a luz elétrica para iluminação pública, as roupas, as ocupações e os passatempos dos parisienses. Estes refletem mais profundamente sobre essa representação, revendo-a uma vez e talvez várias vezes na busca de novas descobertas. De fato, desvendam novas questões e possibilidades escondidas lá dentro e as discutem entre si e com a professora. Há ambiguidade naquilo que confrontam. Há mensagens, algumas mais claras do que outras. Os aprendizes sentem-se arrebatados pela ideia de que naquilo que veem há sinais da Revolução Industrial que discutiram um mês atrás. Percebem ligações com o desenvolvimento da ciência. Explorando o lúdico, resolvem compor uma ficção: uma conversa imaginária entre um comerciante e uma dama bem vestida ou entre dois operários a caminho do trabalho na traseira do ônibus puxado por cavalos. Experimentam criar uma representação semelhante e sentem a dificuldade de consegui-lo. Talvez até comecem a cultivar hábitos mentais que afetem o modo pelo qual abordam outros problemas ou situações de aprendizagem.
            Se essa forma representacional fosse o quadro Place du Théâtre, de Camille Pissarro (1898, Los Angeles County Museum of Art), a anedota diria respeito ao uso das artes visuais para auxiliar na aprendizagem da história e da cultura. Os poucos detalhes fornecidos nessa anedota são coerentes com o quadro em questão. Os alunos “leem” o quadro, conversando sobre as imagens com discernimento, ligando suas mensagens aos temas e contextos históricos explorados no decorrer de seus estudos. Poderiam conduzir suas próprias pesquisas e descobrir os desenhos a carvão da paisagem francesa feitos pelo jovem Pissarro, aparentemente como estudos do advento da fábrica. Poderiam começar a perguntar-se por que os artistas pintam o que pintam. A forma utilizada poderia ser num outro meio: poderia muito bem ser um poema, uma apresentação teatral, talvez uma obra musical.
          Por várias razões importantes, a escolha da forma tem pouco importância. Tanto a pintura quanto o texto num livro didático podem oferecer representações do mesmo conjunto de coisas: cada qual fornece uma janela que dá para o mundo em questão. E a pesquisa poderia acabar mostrando que a escolha do meio talvez não seja tão importante quanto à natureza do planejamento didático de que as representações fazem parte ou que crianças diferentes lêem representações textuais e visuais com graus diferentes de habilidade (Gardner, 1983).
        Evidentemente, eis o argumento: dizer que as artes em geral, ou as artes visuais e musicais no caso de nossa anedota acima, têm pouco a acrescentar à aprendizagem escolar é como dizer que a palavra escrita, ou até a representação em geral, acrescenta pouco à aprendizagem escolar. Ensinamos através de representações. Construímos significados através da formulação de nossas próprias representações: a maioria dessas representações é verbal e algumas são diagramáticas. Mas as possibilidades e o potencial de representações alternativas parecem profundos e muitos educadores aparentemente recebem essa mensagem de forma positiva. [...]
            Portanto, o uso de obras de arte topicamente relevantes e a criação de expressões artísticas são maneiras produtivas de incrementar o conhecimento de disciplinas e de temas específicos em vários currículos escolares, tais como história ou ciência. E todos devemos reconhecer algumas distinções importantes nesta discussão: primeiro, várias formas de arte diferem em termos do grau evidente de envolvimento de habilidades utilizadas nas áreas acadêmicas; e segundo, poderíamos separar os efeitos acadêmicos da aprendizagem nas artes, tais como as habilidades adquiridas em aulas de música ou pintura em aquarela, dos efeitos acadêmicos da aprendizagem através das artes, tais como o uso de pinturas históricas ou a dramatização de momentos históricos significativos para aprender sobre o passado.
       Certamente que um grupo de professores de matemática, ciência, história, línguas estrangeiras e de escola primária julgaria com unanimidade que os alunos que desenvolvessem tais disposições teriam maior probabilidade de sucesso escolar do que os demais alunos, e que esses resultados disposicionais da arte-educação tenderiam a potencializar o desempenho acadêmico em alguma medida.


 






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